"Aprendi contigo a navegar em qualquer tempo, qualquer mar.
Aprendi contigo a desarmar as armadilhas do caminho..."
Ah a imprevisibilidade do Um Amor... É preciso colocá-la
nesse rol de características desse antiobjeto de estudo que é o Um Amor.
Bem, para alguns, imprevisibilidade é o atributo que alguém
ou algo possui de realizar ou ocasionar coisas inesperadas. E aqueles que assim
o são realmente dão um pouco de trabalho. O ser humano precisa ser um pouco
aberto, demonstrar que, além de falho, toma atitudes prováveis. Se caímos
sempre na imprevisibilidade dos nossos movimentos, corremos o grande risco de
subjugarmo-nos à nossa própria imprevisibilidade e tornarmo-nos desconhecidos
de nós mesmos.
Claro que ser um livro aberto é problemático, uma vez que
nem todos os que se dão a nos conhecer possuem a chave de leitura e, com isso,
o livro acaba sendo deixado de lado, não por não ter nada a oferecer, mas
porque o outro não estava preparado para lê-lo naquele momento. Mas acontece
que existem pessoas para quem a chave da leitura foi dada e para essas pessoas
a imprevisibilidade faz todo o sentido do mundo.
Não é aquela imprevisibilidade do segundo parágrafo, aquela
é um extremo. Nem me refiro à total previsibilidade do início do terceiro, ela
é o outro extremo. A virtude está no meio! O negócio, então, é saber ser um
livro. Ser improvável como um, mesmo que o leitor, quando é esperto, antecipa
acontecimentos e acerta aqui e ali. Mesmo assim, mesmo sabendo os próximos
eventos que acontecerão no próximo capítulo, o leitor fica curioso, motivado,
apaixonado a cada página e segue lendo, sem se prender a suas próprias expectativas,
mas se deixando conduzir pelo que texto que, segundo o que vai descobrindo, vai
sendo escrito à medida que vai passando a vista.
Imprevisibilidade é o dom de quem sabe viver sem se prender
às expectativas, quer suas, quer dos outros. Talvez alguém levante a seguinte
questão: então ser curioso é uma inconveniência... Bem, a curiosidade é um
alimento. Move a vida! É ela que nos faz transformar até mesmo o mais
presumível em algo inesperado – tudo para escapar da inércia: o mesmo beijo, o
mesmo olhar, a mesma vida vira vida nova a cada linha lida.
E sabedoria tem aquele que, como o Um Amor, sempre tem vontade de viver
cada dia essa imprevisibilidade plausível e nada assustadora, pelo contrário,
cativante e úbere.
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