"Só você sabe quem eu sou,
só você sabe como é..."
Provavelmente consideram característica problemática aqueles
mortais que não se reconhecem como tal o fato de que o ser humano é
inerentemente incompleto e passa uma vida toda, às vezes, para descobrir-se
assim. E é incrível como a raridade do encontro com alguém que tem essa
consciência é capaz de deixar qualquer um sem saber o que fazer ou falar.
Este que escreve não é qualquer um, embora não seja alguém
totalmente preparado (ninguém o é) para as emoções que a vida desvela. Mesmo
assim, não escapei do encanto e da sensação extraordinária que sinto sempre que
participo de uma acareação entre a arrogância da humanidade e com a
incompletude do Um Amor. São sutis essas ocorrências, mas, por serem sutis, são
indeléveis: não há como esquecer eventos em que uma mulher, de pouca idade, tem
consciência de que muito lhe falta para chegar a um ponto que ainda não será o
final.
Claro que não poderia ser o pensamento de todos os homens –
muito menos das mulheres. Pessoas assim são escolhidas a dedo pelo Projetista.
Todo ser humano nasce incompleto... e assim também morre. Quando criança, vamos
descobrindo universos de coisas, muitas dessas coisas estavam dentro do próprio
ser, mas precisava de um gatilho para que desabrochassem. E, já quando criança,
uma dessas coisas que se dão a aparecer é a arrogância. Qualquer um é capaz de
lembrar alguma situação em que se sentiu completo, capaz de tudo, mesmo
criança. A diferença é que, quando criança, ao cairmos, aprendemos o que fazer
para não cair mais. A idade chega, trazendo junto a ignorância da certeza de
que existe um ponto de chegada. Sem se dar conta, vamos nos dando conta que as
coisas das quais vamos nos apropriando vão se somando até preencher todos os
espaços vazios. Pura arrogância!
Somos incompletos e sempre seremos. Nunca temos consciência
disso. E, por incrível que pareça, há sempre uma razão para acreditarmos no
divino. É divino que alguém tenha consciência da própria pequenez e de que a
vida é uma eterna busca, mesmo quando pensamos que chegamos ao fim. Se não
fosse sempre busca, um dia pararíamos e não teríamos para onde ir.
O Um Amor me mostrou que é possível saber já nessa vida que
ela é incompleta e que a completude nos dizima aos poucos. Enquanto todos os
demais se acham paladinos da vida, ela sabe muito bem que ela é só um ser
pequenino neste mundo, quase uma hobbit (embora seja ela quem imagino quando
penso em Lúthien, personagem mais bela do universo criado pelo meu filólogo
favorito). Impossível não se apaixonar por tamanha sabedoria.
É a pseudocompletude que engendra a sensação de completo
vazio. Ao mesmo tempo, é a grandeza de admitir a própria pequenez que traz uma
sensação de estar-se cheio de tantas coisas: paz, alegria, sonhos...
Combustíveis da eterna busca!
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