"A gente vive assim: sempre acabando o que não tem fim..."
Sempre me intrigou ao extremo o fato de que “nuvem” é um substantivo concreto. Ele é tão leve. Tanto o significante quanto o referente. Quase não fazemos esforço algum para pronunciar essa palavra. E o que dizer das nuvens lá do céu. Na verdade, a meteorologia me refutaria, sem muito esforço, dizendo que as nuvens são sim muito pesadas, logo eu devolveria fazendo a a seguinte pergunta: o que pesa mais: um quilograma de nuvem ou um quilograma de cimento? Para além da palavra “nuvem” em si, me intriga muito mais a subclassificação dos substantivos em concretos e abstratos. Nessa história, amor virou substantivo abstrato. Como assim, se amor é uma palavra tão pesada, forte, indestrutível e palpável? Não entendo vocês, normatizadores!
O Um Amor, diferente do amor que é substantivo abstrato, é
substantivo próprio e talvez seja por causa das propriedades desse nome próprio
que eu me confunda tanto com o que venha ou não a ser o amor abstrato.
Parece-me que abstrato é o amor sem peso, o amor que não tem
gravidade, que vive nas nuvens. Opa, as nuvens são concreto! Meu ponto é que
amor sem agrura sofre de sobrecarga iluso-aparenciológica. Explico: não requer
tanta busca o vislumbre de abstrações tais que nos fazem pensar que o nosso
conceito de amor é equivocado. Pessoas cuja aparente felicidade é a mão
esmagadora de um estúpido alardeio.
Que me faz julgar o amor dos outros? Bem, não julgo o amor
de ninguém, julgo a abstração desses amores. Amor não é um riso sem fim nem uma
alegria indescritível. Amor não é nada que deixe a boca sem dizer palavra e as
pernas bambas. Isso pode ser fome, êxtase ou tantos outros sintomas. Amor é
concreto. Duro. Forte. Inconcusso – pra usar um adjetivo que eu ainda não usei.
Para ser inabalável há que ser pesado e de ter o couro
grosso, e para chegar aí é preciso muito choro e ranger de dentes. São 7 os
infernos de Dante e depois deles a vitória. Alguém, que eu não vou lembrar
quem, disse que se começamos a atravessar um inferno, não podemos parar até
chegar do outro lado. Calma, calma, calma! Não estou dizendo que o amor é o
inferno, estou dizendo que amor é mais concreto que qualquer sofrimento.
Um nó feito na garganta por uma tristeza é algo concreto. Os
olhos inchados e cansados pelo choro são concretos. A dor no peito por uma
queda monumental é concreta! E amor é ainda mais concreto que tudo isso.
O amor demanda rigidez, afinal é uma construção, necessita
de alicerce! Alicerce abstrato não sustenta amor concreto!
Já elenquei meu objeto de estudo e agora instancio o meu
método: meu método é o da observação da concretude do Um Amor para bem
estudá-lo. Para o plano das ideias devem ficar passado e futuro, por isso essa
observação é sincrônica. E hipóteses, pelo seu teor abstrato, também são
dispensáveis. E dispensáveis também hão de ser as incontáveis coisas que
desservem, que não somam, pois não pesam, que não engrandecem, pois não sustentam.
Amor abstrato é coisa da esquerda! Nem o ar é impalpável, imagine o amor que
fá-lo movimentar-se...
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