14 de agosto de 2015

II - Concretude



"A gente vive assim: sempre acabando o que não tem fim..."

Sempre me intrigou ao extremo o fato de que “nuvem” é um substantivo concreto. Ele é tão leve. Tanto o significante quanto o referente. Quase não fazemos esforço algum para pronunciar essa palavra. E o que dizer das nuvens lá do céu. Na verdade, a meteorologia me refutaria, sem muito esforço, dizendo que as nuvens são sim muito pesadas, logo eu devolveria fazendo a a seguinte pergunta: o que pesa mais: um quilograma de nuvem ou um quilograma de cimento? Para além da palavra “nuvem” em si, me intriga muito mais a subclassificação dos substantivos em concretos e abstratos. Nessa história, amor virou substantivo abstrato. Como assim, se amor é uma palavra tão pesada, forte, indestrutível e palpável? Não entendo vocês, normatizadores!

O Um Amor, diferente do amor que é substantivo abstrato, é substantivo próprio e talvez seja por causa das propriedades desse nome próprio que eu me confunda tanto com o que venha ou não a ser o amor abstrato.

Parece-me que abstrato é o amor sem peso, o amor que não tem gravidade, que vive nas nuvens. Opa, as nuvens são concreto! Meu ponto é que amor sem agrura sofre de sobrecarga iluso-aparenciológica. Explico: não requer tanta busca o vislumbre de abstrações tais que nos fazem pensar que o nosso conceito de amor é equivocado. Pessoas cuja aparente felicidade é a mão esmagadora de um estúpido alardeio.

Que me faz julgar o amor dos outros? Bem, não julgo o amor de ninguém, julgo a abstração desses amores. Amor não é um riso sem fim nem uma alegria indescritível. Amor não é nada que deixe a boca sem dizer palavra e as pernas bambas. Isso pode ser fome, êxtase ou tantos outros sintomas. Amor é concreto. Duro. Forte. Inconcusso – pra usar um adjetivo que eu ainda não usei.

Para ser inabalável há que ser pesado e de ter o couro grosso, e para chegar aí é preciso muito choro e ranger de dentes. São 7 os infernos de Dante e depois deles a vitória. Alguém, que eu não vou lembrar quem, disse que se começamos a atravessar um inferno, não podemos parar até chegar do outro lado. Calma, calma, calma! Não estou dizendo que o amor é o inferno, estou dizendo que amor é mais concreto que qualquer sofrimento.

Um nó feito na garganta por uma tristeza é algo concreto. Os olhos inchados e cansados pelo choro são concretos. A dor no peito por uma queda monumental é concreta! E amor é ainda mais concreto que tudo isso.

O amor demanda rigidez, afinal é uma construção, necessita de alicerce! Alicerce abstrato não sustenta amor concreto!

Já elenquei meu objeto de estudo e agora instancio o meu método: meu método é o da observação da concretude do Um Amor para bem estudá-lo. Para o plano das ideias devem ficar passado e futuro, por isso essa observação é sincrônica. E hipóteses, pelo seu teor abstrato, também são dispensáveis. E dispensáveis também hão de ser as incontáveis coisas que desservem, que não somam, pois não pesam, que não engrandecem, pois não sustentam. Amor abstrato é coisa da esquerda! Nem o ar é impalpável, imagine o amor que fá-lo movimentar-se...

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