14 de agosto de 2015

VI - Impecabilidade



"É impossível repetir o que só acontece uma vez,
é impossível reprimir o que acontece toda vez que alguém acorda..."

A sinceridade não é um atributo. É, muito mais, um órgão físico presente em alguma região dos miolos da cabeça. O esforço humano, então, não é de ser sincero, mas sim de não ser sincero sempre. E é aqui que entra a outra característica do Um Amor: a precisão.

Não sei se os demais seres humanos dão valor como eu (se é que eu sou mesmo um ser humano) a precisão – nomeei-a no título de “impecabilidade” e talvez não seja um sinônimo exatamente perfeito (na verdade, a perfeição dos sinônimos é um engano, tolice, ingenuidade, ilusão e outros tantos sinônimos), talvez daqui para o fim eu mostre a união dos campos semânticos. Dou muito valor e eu acho que não consigo explicar bem o porquê. Tentarei.

Qualquer pessoa já se deparou com uma situação em que os sentimentos todos se misturaram e, de repente, algum sobressai. Abole-se com isso a precisão. Todos os sentimentos se manifestam ao mesmo tempo e nenhum coopera para o bem daqueles que o tem – como o amor coopera sempre. É até natural que, devido à obscuridade de algum momento, não se saiba bem o que fazer com os sentimentos que se tem. Deixa-se um comandar os outros e perdem-se as estribeiras...

É por isso que fica raro encontrar a precisão. Há um ponto que se deve buscar (chamam atualmente de ponto de equilíbrio, revisitando a proposta aristotélica de que a virtude está no meio) e é uma busca sem fim porque, de fato, é difícil encontrar uma coisa tão espremida: força de um lado delicadeza do outro; falta versus excesso; overdose versus abstinência... A precisão é precisa, necessária (aqui o sinônimo ajuda!). E eis que aparece o porquê da impecabilidade no título: para ser impreciso há que ser impecável na hora do encontro, isto é, o momento em que é exigido de si a decisão entre uma reação ou aquela diametralmente oposta.

À hora do “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” quase ninguém sobrevive. É a sinceridade, descontrolada, a responsável por essa não sobrevivência. Na hora H, no dia D, muita gente acaba sendo sincera a ponto de, ou explodir e destruir tudo ao redor, ou correr e escapar da luta, fugir com desonra. Costumo ser esses últimos. Mas o Um Amor tem doutorado em imprevisibilidade (essa é outra característica ainda a ser apresentada) e sempre mostra a precisão. Imprevisível porque ninguém espera que um ser humano, em vez de puxar o gatilho ou de correr da briga, mostre o que de fato precisava ser feito. O Um Amor é impecavelmente preciso. E isso, mais que raro, é sobrenatural.

No meio da força e da delicadeza, do exagero e da escassez, da solidez e da flacidez, da razão e da emoção (substantivos eternamente briguentos) deve morar algo, esse algo, me mostrou o Um Amor que é a autenticidade e o amor pela objetividade na decisão. Precisão. Algum dia serei impecável em minha descrição e hei de demonstrar exatidão no relato dos fatos para comprovar a teoria. Mas não estou fazendo experimento, mas formulando hipóteses. E minha hipótese principal nesse ponto é que o Um Amor é Um Amor porque é impecavelmente precisa, embora tenha como qualquer ser humano tantos sentimentos em sua vida.

Que o mundo encontre a precisão como eu precisamente encontrei. E, sabe, eu não precisaria ser preciso com mais nada... já fui preciso ao me eleger amor do Um Amor.

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