"Meu coração é um porta-aviões
perdido no mar esperando alguém pousar"
perdido no mar esperando alguém pousar"
A tendência que o mundo tem é de acreditar em tudo ou de acreditar em nada. Ingenuidade e ceticismo são dois lados de uma moeda negra pela qual não podemos brigar.
Advogo que não podemos ser certos de qualquer coisa, afinal
os dias recomeçam todo dia. Ingenuidade e fé cega caminham de mãos dadas.
Ceticismo e dureza de coração morrem de pés juntos. Sobre o amor doentios
ambos.
A ingenuidade no amor leva ao nada da mesma forma que o nada
leva a lugar algum. Quando se acredita em tudo e a tudo dá-se o nome de amor já
não é mais um risco, mas é factual a direção infeliz que se há tomado (pedi
essa construção bem aqui do espanhol, não sei o que acho dela no português!).
Nem todo latido de cães na alta madrugada é contra um perigo, pode ser apenas
um teste, ou solidariedade – já percebi que os cachorros são solidários com
seus demais espécimes, latem com a mesma força quando um puxa o coro. Todo
cuidado é pouco para não se crer no incrível.
O ceticismo no amor é igualmente doloroso e, como a
primeira, leva para o mesmo nada do outro, demorando o mesmo tanto de tempo
para que esse nada se revele. Embora seja compreensível que alguns corações se
fechem a fim de manter resguardo após pomposa treva, é questão de tempo
perceber que uma porta sempre trancada guarda alguma coisa valiosa! Todo
cuidado é pouco para se crer no incrível.
Entre ingenuidade e ceticismo está a liberdade. E foi essa
liberdade que gerou o Um Amor. Sagacidade é a velocidade que se tem de
compreender o quanto algo é necessário na vida e humildade é reconhecer a hora
certa de descosturar a roupa toda para tecê-la do início com mais atenção,
mesmo que seja preciso mudar a corda linha. E o Um Amor foi sagaz e humilde:
deu fim ao que não começou e começou o que não pressupõe fim. Manifestar a liberdade
é algo que requer tempo para que se compreenda que às vezes o que estivemos a
chorar pode continuar nos fazendo chorar, mas de rir, sem deboche, graças à
certeza de que se pôde ir além!
Amor mesmo é quase dor, mas não maltrata. Amor que se preza
chora, mas não mata o riso. Amor é sempre verdadeiro, nunca é pela metade.
Sentiu dor, chorou, duvidou, mas nunca desistiu porque foi livre para viver,
exonerar velhos limites e compreender os novos e, por fim, tornar-se o Um Amor.
E foi livre para libertar o Um Eu.
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