"Encontrei, depois de tanto tempo,
em vidas passadas, em noites passadas em branco..."
Toda teoria deve partir de regularidades e essa não é
diferente. Há uma periodicidade de sensações diversas, embora, às vezes certas
sensações apareçam fora de ordem (responsabilizo o caos constante naquilo que é
ordinário à batida das asas da borboleta... graças a ela acontecem os furacões
no Japão!). É como escreveu o sábio “há um tempo certo para tudo debaixo do
sol”.
Há o tempo de não ter saco para nada – inacreditável como
esses dias são inúmeros. Já foram muitos os momentos em que, mesmo juntos,
parece que a única coisa que apraz é ficar sentado olhando para o nada,
tentando encontrar algo que satisfaça a vontade de nada fazer. Algum dia ainda
havemos de perceber que é os dias de moleza, quando não produzimos nada, que
mais nos unem. Talvez sejam eles os responsáveis pela prevenção de sobrecarga
no sistema!
Há o tempo de engordar – me assusta esse tempo. Dizem que um
homem sem barriga é um homem sem história. Acabo estendendo esse jargão à
mulher, por isso faço o Um Amor comer tanto chocolate. Bem, questões médicas à
parte, não me parece de todo equivocado supor que a vida foi feita mais para se
comer do que para se viver. Não comer a vida, mas comer as coisas gostosas que
por causa dela fazemos. Prova de amor maior não há do que dividir o último
pequeno pedaço de chocolate (que me perdoem os olhos rijos por essa referência
católica) e já demonstramos tanto esse amor. Deixando os exageros de lado, acho
que engordar junto faz parte de um processo constante de saboreio das coisas
deste mundo sem fim.
Há o tempo de brigar – tem que ter, né?! Antes eu tive tanto
orgulho de passarmos inúmeros meses sem saber o que era briga, na verdade,
ambos tivemos esse orgulho. Isso porque mal sabíamos o quanto ainda
precisávamos crescer. Normal. Mas somos incompletos, não podemos ter certeza do
que nos faz bem, devemos apenas averiguar se o que sentimos é mesmo bom e se
não pode melhorar. Talvez as brigas sejam como as pancadas que o escultor dá na
pedra para que ela fique da exata forma pretendida, ou mesmo como um
desfibrilador num coração inerte... É isso! Inércia! Há sempre que se fugir
dela! É sempre preciso algum para espantar a primeira lei do sir. Isaac. A
rotina faz parecer que é natural tudo amornar. E é verdade, quentura demais é
prejudicial. Mas esfriar jamais. E só se escapa da inércia com sutilezas,
sutilezas tais que não são passíveis de receituário, é instintivo.
Há tempo de voltar – relembrar pensamentos, reviver fatos.
Esse período, que acontece sempre que bate a nostalgia, nos dá gás renovado
para, mesmo com a cabeça lá nas nuvens, manter os pés no chão, comprometidos
muito mais do que com o futuro, mas também com o passado. Cometem-se muitas
injustiças nesse planeta arredondado porque o passado é julgado como algo que
já passou e que, por isso mesmo, pode ser modificado e contado do jeito que se
quer. Engano monumental. O passado é a margem e a calha do rio: quando ambos
sofrem maus tratos, o rio é assoreado. Li que o assoreamento não mata o rio,
mas o faz transbordar e causar estragos ao redor. Mesmo que morra, o rio acaba
pirando!
Talvez haja até o tempo de dar um tempo... Mas se ele
realmente houver, que seja um tempo em que se esteja junto, para que ele passe
sem vê-lo passar.
Há tempo para discordar, há tempo para defender, há tempo
para badernar e há tempo para se viciar pelas coisas do outro – o certo é que
só há uma coisa em comum em qualquer tempo que houver: o fato de ser O Tempo do
Um Amor.
É por isso que nada pode ser menos que lindo quando é dia
cinco. Dia que volta o ciclo, quando tudo está no seu lugar.
O Um Amor é regular e não inerte. Milagre possível para um risolhar de quem é o Um Amor.
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