14 de agosto de 2015

V - Regularidade



"Encontrei, depois de tanto tempo,
em vidas passadas, em noites passadas em branco..."

Toda teoria deve partir de regularidades e essa não é diferente. Há uma periodicidade de sensações diversas, embora, às vezes certas sensações apareçam fora de ordem (responsabilizo o caos constante naquilo que é ordinário à batida das asas da borboleta... graças a ela acontecem os furacões no Japão!). É como escreveu o sábio “há um tempo certo para tudo debaixo do sol”.

Há o tempo de não ter saco para nada – inacreditável como esses dias são inúmeros. Já foram muitos os momentos em que, mesmo juntos, parece que a única coisa que apraz é ficar sentado olhando para o nada, tentando encontrar algo que satisfaça a vontade de nada fazer. Algum dia ainda havemos de perceber que é os dias de moleza, quando não produzimos nada, que mais nos unem. Talvez sejam eles os responsáveis pela prevenção de sobrecarga no sistema!

Há o tempo de engordar – me assusta esse tempo. Dizem que um homem sem barriga é um homem sem história. Acabo estendendo esse jargão à mulher, por isso faço o Um Amor comer tanto chocolate. Bem, questões médicas à parte, não me parece de todo equivocado supor que a vida foi feita mais para se comer do que para se viver. Não comer a vida, mas comer as coisas gostosas que por causa dela fazemos. Prova de amor maior não há do que dividir o último pequeno pedaço de chocolate (que me perdoem os olhos rijos por essa referência católica) e já demonstramos tanto esse amor. Deixando os exageros de lado, acho que engordar junto faz parte de um processo constante de saboreio das coisas deste mundo sem fim.

Há o tempo de brigar – tem que ter, né?! Antes eu tive tanto orgulho de passarmos inúmeros meses sem saber o que era briga, na verdade, ambos tivemos esse orgulho. Isso porque mal sabíamos o quanto ainda precisávamos crescer. Normal. Mas somos incompletos, não podemos ter certeza do que nos faz bem, devemos apenas averiguar se o que sentimos é mesmo bom e se não pode melhorar. Talvez as brigas sejam como as pancadas que o escultor dá na pedra para que ela fique da exata forma pretendida, ou mesmo como um desfibrilador num coração inerte... É isso! Inércia! Há sempre que se fugir dela! É sempre preciso algum para espantar a primeira lei do sir. Isaac. A rotina faz parecer que é natural tudo amornar. E é verdade, quentura demais é prejudicial. Mas esfriar jamais. E só se escapa da inércia com sutilezas, sutilezas tais que não são passíveis de receituário, é instintivo.

Há tempo de voltar – relembrar pensamentos, reviver fatos. Esse período, que acontece sempre que bate a nostalgia, nos dá gás renovado para, mesmo com a cabeça lá nas nuvens, manter os pés no chão, comprometidos muito mais do que com o futuro, mas também com o passado. Cometem-se muitas injustiças nesse planeta arredondado porque o passado é julgado como algo que já passou e que, por isso mesmo, pode ser modificado e contado do jeito que se quer. Engano monumental. O passado é a margem e a calha do rio: quando ambos sofrem maus tratos, o rio é assoreado. Li que o assoreamento não mata o rio, mas o faz transbordar e causar estragos ao redor. Mesmo que morra, o rio acaba pirando!

Talvez haja até o tempo de dar um tempo... Mas se ele realmente houver, que seja um tempo em que se esteja junto, para que ele passe sem vê-lo passar.

Há tempo para discordar, há tempo para defender, há tempo para badernar e há tempo para se viciar pelas coisas do outro – o certo é que só há uma coisa em comum em qualquer tempo que houver: o fato de ser O Tempo do Um Amor.

É por isso que nada pode ser menos que lindo quando é dia cinco. Dia que volta o ciclo, quando tudo está no seu lugar.

O Um Amor é regular e não inerte. Milagre possível para um risolhar de quem é o Um Amor.

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