1 de maio de 2011

O Dezoito


Texto escrito há alguns meses. Quando acabara de fazer dezoito anos...
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Ganhei as chaves de casa! Agora eu já posso chegar depois das dez, já posso votar, já posso tirar a carteira de motorista, já posso ser preso, já posso até trabalhar (isso eu, por enquanto, passo). Essas e outras pareciam ser as consequências dos dezoito anos. Com dezoito anos e alguns dias, percebo que muito disso é ilusão. Mas o que seria de nós sem a ilusão? Sem o deleite de sonhar com o ideal?

A menina, aos quinze, debuta e por isso se sente mais mulher, mais livre. Já pode namorar e dizer para os pais que namora. Namorar mesmo, há tempos já o fazia. Os pais, que de bobos não têm nada, já sabiam que a menina já era flor cheirada há muito tempo, apenas fingiam não saber ou queriam não acreditar.

O menino, aos quinze, continua sendo menino. Nada aconteceu de extraordinariamente diferente. O homem não tem o ciclo menstrual para dizer que passou de uma fase para outra. Homem mesmo ainda demora. Estou me convencendo de que nem com os dezoito vem o reconhecimento da masculinidade. Acontece que aos quinze o menino é menino e aos dezoito ele só é “uma tirinha” mais crescido.

A maioridade penal tem um peso grande. De resto, nada mais é diferente. Quando eu tinha dezesseis já parecia ter dezoito. Não mudou muito. Muda mesmo pra quem tem dezoito e tem cara de dezesseis. Aí os documentos entram em ação!

Opa! Já ia esquecendo... muda sim! Com dezoito, as meninas de quinze começam a olhar diferente. O garoto, sonhador com as de 21, percebe que as debutantes riem mais com as besteiras juvenis que saem da boca do que acabara de completar dezoito (olha só que discriminação: quem faz dezoito nem nome tem!). Parece que ter feito dezoito fez o cara ficar mais atraente, pelo menos para as mais novas.

Falam da variação do humor... nem ando sentindo muito isso não. Parece acontecer muito mais no pré-dezoito e no pós-quarenta. Ao meu redor, os de dezoito ouvem mais e falam mais também. Brigam menos e discutem mais. Cobram e se indignam quando outros não cobram e têm um cuidado com os estudos diferente dos que lhe sucederão. Talvez aí mora uma diferença.

O que eu esperava (com desconfiança) era mais respeito e mais confiança dos mais velhos. Pra quem é mais novo, nós, os de dezoito, já somos confiáveis e respeitáveis (muito embora alguns não sejam tão respeitadores), porém os mais velhos... Parece que nunca o girino vai virar sapo. Nossas opiniões são infantis e nossas decisões provisórias. Não generalizo, mas eis aí uma coisa que os “maduros” poderiam aprender conosco: a provisoriedade das nossas decisões. Mudamos de opinião quando nos convencemos. Nossa cabeça ainda não está tão dura.

Tudo bem que isso não acontece com todo mundo e tudo bem que todo mundo tenha queixa com algum recém ganhador da maioridade. Isso é perfeitamente compreensível! Muitos de nós damos motivos de sobra para tais pensamentos. Só gostaria que os “maduros” não se vissem como maduros e os jovens não se vissem como “verdes”. E aqui não falo dos “maduros” como sendo os adultos. Falo dos “maduros” de todas as idades. O rio corre na terra encharcada e na terra seca. Da mesma forma, a vida é vida para os maduros, verdes, até para os que pensam estar apodrecendo. E ninguém vive já sabendo de tudo. Enquanto houver vida, haverá coisas para se aprender. Será preciso até aprender a ensinar, que é para onde todo ser humano caminha.

E com uma pequena inclinação pelo velho, agora já me sinto mais à vontade para dizer que ouço Eric Clapton e que gosto das canções de Noel Rosa. Com dezoito, as opiniões são um tantinho menos questionáveis. Já se aceita mais. Pelo menos entre os outros jovens. E que bom que existem jovens de quarenta, de sessenta e que ainda existem jovens de dezoito.

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