Acordei hoje de manhã lerdo, porém alegre, como sempre. Sem um pingo de vontade de levantar, calçar os chinelos, pegar a toalha e entrar naquele cômodo da casa tão torturante: o banheiro. Lá é onde nos vemos pela primeira vez no dia. Vemos a criatura estranha que aparece no espelho tentando despertar e limpar tanta coisa amarela nos olhos. Mas eu também estava empolgado para ver o olhar, as histórias e, principalmente, o sorriso das pessoas que embelezam a vida.
Terminando a limpeza matutina fui para sala, me vesti e assisti ao telejornal. O apresentador estava gripado (percebi pela voz). A parceira dele errou o texto em um dado momento. Minha mãe conversava algo sobre o ENEM, dizendo que falta pouco para acabarem as inscrições. E a refeição matinal foi completamente ingerida... ia digerindo-a... Pedi a bênção de minha mãe, passei a última camada de creme na região da minha barba mal feita e saí para enfrentar a segunda tortura do dia: o ônibus.
Na parada, dei um bom dia (sorrindo) ao seu João, meu vizinho, e ao seu Antônio, o jovem senhor que vende bombom e vale-transporte. Tive como resposta mãos levantadas e “bom dias” felizes. Um pouco mais, chega outro grande, meu amigo Caio - Naruto. Trocamos algumas piadas, falamos dos professores do IFPI e entramos no torturador da manhã.
É de praxe (aos poucos fui me acostumando) a dar bom dia também para o motorista do ônibus. Meu pai o fazia e, claro, ninguém sabe imitá-lo melhor do que eu. Hoje, dou bom dia (sempre sorrindo) ao motorista por tentar passar um pouco da alegria que tenho pela manhã para aquele que será o responsável pelo meu transporte e pela minha segurança, pelo menos enquanto estivermos enfrentando outra luta (tortura): o trânsito de Teresina, que apesar de não ser uma cidade tão grande assim, tem um trânsito infernal - comparável às nossas temperaturas.
Incrivelmente, desta vez, sentei-me. Realmente incrível! Sentei e continuei a conversa com meu amigo enquanto se aproximou, depois de algumas paradas, uma jovem estudante segurando cadernos e livros com uma mão e o corre-mão do ônibus com a outra. Pensei em dar a cadeira, mas ela estava com a farda de uma escola que ficava a uma curta distância dali. Não dei meu lugar, mas estendi minha mão direita e pedi delicadamente seu caderno e livros para segurar...
Já sei, empiricamente, que o sorriso é a maior, melhor e mais objetiva forma de gratidão. Estou errado? Parece que sim... aquela jovem apareceu nessa manhã para tentar mostrar que eu estava errado ao achar que sorrir é melhor que dizer, mesmo que obrigado: “muito obrigado”! Não quero aqui reclamar da jovem que não quis sorrir pra mim, mas devo confessar que aquilo tirou um tantinho da minha alegria.
Deixe-me explicar o porquê da minha indignação...
Era uma menina muito bonita. Juro que se eu não estivesse de olho em outra bonita acolá e se ela não estivesse tão sem olho e sem sorriso pro meu lado, eu teria coragem. Mas pulemos o romance. Bom mesmo é a crônica. Peguei os livros dela e olhei o rosto distante e indiferente que estava em frente ao meu.
Algumas paradas depois, entreguei os livros e o que vi? Não! Não era o mesmo rosto. Era pior! Talvez fosse a música ambiente, talvez fosse o meu cheiro (ou o fedor. Será? Eita!), talvez fosse a escola em que ela estudasse, talvez fosse o jogo do Flamengo de ontem à noite, talvez fosse... meu Deus, não tinha pensado nisso: a TPM. Enfim, já comecei mesmo a esculhambá-la. Termino. O que vi foi uma cara fechada. Sobrancelhas cruzadas, testa cheia de linhas e nariz inchado. Meu caro e nobre corajoso leitor, afirmo com toda certeza que parecia que eu tinha rasgado alguma página do caderno dela em que o Luan Santana (se ela for uma fã do Luan Santana) autografou! A expressão facial da garota era como se eu tivesse dito que a mãe dela era uma filha da... mãe!
Aquela falta de sorriso, depois de eu ter distribuído tantos por aí, me encheu de uma vontade desesperada de levantar daquela cadeira e de três, uma: ou fazer cócegas nela até ela sorrir; ou puxar as bochechas dela para ver o seu sorriso, mesmo que à força; e/ou o último e mais desfavorável à garota, dar um beijo nela, que era para dar motivos reais para aquela infelicidade e rabugice.
Mas relevei. Entreguei os livros. Deixei de esperar o sorriso e segui conversando com meu amigo sobre a música dos Eagles que miraculosamente encantava aquela manhã alegre (apesar daquela menina) e cheia de luz graças a tantos outros sorrisos que dei e recebi ao longo daquela quinta-feira.
Não deixe de iluminar alguém com seu sorriso. Seja aquele sem mostrar os dentes, seja aquele arregalado. Temos grandes motivos pra chorar e melhores ainda para sorrir, afinal, como dizia o poeta (Vinicius de Moraes): “É melhor ser alegre que ser triste/ alegria é a melhor coisa que existe...”!
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