12 de novembro de 2010

Simples Ironia

Será tristeza ou solidão?
Dor de cabeça ou de coração?
Devo procurar amor ou paixão?

Sou todo ouvidos ou todo omissão?

Vivo nos dias de hoje ou nos que virão?

Quero ser feliz ou esperar aquela mão

Vir me tirar dessa desilusão?


Estou meio assim...

Daquele jeito que só digo "sim".

Estou cansado, engasgado, enfim...

Quero gritar até minha voz chegar ao fim

Ou até você resolver o que quer de mim.


Se quer que eu seja todo seu

Ou se quer que eu ressuscite o que morreu:

Aquela chama que nunca se acendeu,

Aquele beijo que você nunca me deu...


Uma canção me vem à mente,

O perigo salta, estou carente,

Estou louco, reticente...

Quero uma flor bem aqui na minha frente,

Quero um amor trazendo o sol poente!


A rima engana a poesia.

Há quem diga que há agoni
a
Quando se sente amor e melancolia.

Há quem diga que há desarmonia

Em chorar e sentir alegria...

Vou à porfia!

Amar e fazer do meu dia

Muito mais do que palavras e teorias,

Pois tenho essa mania:

Sorrir e fazer da tristeza simples ironia.

10 de novembro de 2010

Parte III


Vou à parede e examino o retrato,

irresponsável-amarelo-acinzentado-testemunha.

Meus olhos não se abrem e mesmo assim o vejo.

E mesmo assim te vejo, ó menino, encostado à palmeira de tua praça

e sem querer sair.

E mesmo assim te penso dique,

desolação de seca na caatinga, noite de insônia,

canção antiga ao pé do berço,

prata

fósforo queimado

poço interminável, seco.

Ouço teu sorriso e te obedeço.

Eu que desaprendi a preparação do sorriso

e não o consigo mais.

Estou preso a ti, ainda agora,

apesar do cabelo escurecido,

as mãos maiores e mais magras

e um súbito medo de morrer, amor à vida, tolo.

tenho preso a ti a palavra primeira

e o primeiro gesto de enxergar o espelho:

ouço-te, sou mais desgosto em mim, imcompreensível.

À tua ordem decido não envergonhar-me de existir

nesta forma disforme e de osso

carne

algumas coisas químicas

e uma vontade de estar sempre longe,

visitando países absurdos.

Não posso envergonhar-me de ser homem.

tenho um menino em mim que me observa

e ele tem nos olhos

(qual a cor?)

todas as manhãs e tardes e manhãs com sol e chuva

e eu menino, que me alumiava.

Tenho um menino em mim e ele é que me tem:

por isso a corcunda precoce

e os olhos banzos: tenho o corpo voltado à sua procura

e meu olhar apenas toca, e leve,

a exata matriz da calça

molhada em festa vespertina da bexiga.


Torquato Neto

Parte II


Também tenho uma noite em mim tão escura

que nela me confundo e paro

e em adágio cantabile pronuncio

as palavras da nênia ao meu defunto,

perdido nele, o ar sombrio.

(Me reconheço nele e me apavoro)

Me reconheço nele,

não os olhos cerrados, a boca falando cheia,

as mãos cruzadas em definitivo estado, se enxergando,

mas um calor de cegueira que se exala dele

e pronto: ele sou eu,

peixe boi devolvido à praia, morto,

exposto à vigilância dos passantes.

Ali me enxergo, à força no caixão do mundo

sem arabescos e sem flores.

Tenho muito medo.

Mas acordo e a máquina me engole.

E sou apenas um homem caminhando

e não encontro em minha vestimenta

bolsos para esconder as mãos, armas, que, mesmo frágeis,

me ameaçam.

Como não ter medo?

Uma noite escura sai de mim e vem descer aqui

sobre esta noite maior e sem fantasmas.

como não morrer de medo se esta noite é fera

e dentro dela eu também sou fera e me confundo nela e

ainda insisto?

Não é viável.

Nem eu mesmo sou viável, e como não? Não sou.

O que é viável não existe, passou há muito tempo

e eram manhãs e tardes e manhãs com sol e chuva

e eu menino.

eram manhãs e tardes e manhãs sem pernas

que escorriam em tardes e manhãs sem pernas

e eu sentado num tanque absurdamente posto no meio da rua,

menino sentado sem a preocupação da ida.

E era todo dia.

Havia sol

e eu o sabia

sol: era de dia

Havia uma alegria

do tamanho do mundo

e era dia no mundo.

Havia uma rua

(debaixo dum dia)

e um tanque.

Mas agora é noite até no sol.

Torquato Neto



Explicação do Fato - Parte I


Impossível envergonhar-me de ser homem.

Tenho rins e eles me dizem que estou vivo.

Obedeço a meus pés

e a ordem é seguir e não olhar à frente.

Minúsculo vivente entre rinocerontes

me reconheço e falho

e insisto.

E insisto porque insistir é minha insígnia.

O meu brasão mostra dois pés escalavrados

e sobram-me algumas forças: sei-me fraco

e choro.

E choro e nem assim me excedo na postura humana:

sofro o corpo inteiro, pendo e não procuro

a arma em minhas mãos.

Sei que caminho. É só.

Joelhos curvam-se, amaziam ao chão que queima

e me penetra e eu decido que não posso

envergonhar-me de ser homem.

A criança antiga é dique barrando o meu escôo

e diz que não, não me envergonhe.

Não me envergonho.

Tenho rins mãos boca orgão genital e

glândulas de secreção interna:

impossível.

No entanto sinto medo

e este é o meu pavor.

Por isso a minha vida, como o meu poema,

não é canto, é pranto

e sobre ela me debruço

observando a corcunda precoce

e os olhos banzos.


Torquato Neto

Torquato Pereira de Araújo Neto


Devo desculpas ao Anjo Torto. Devido ao tempo, só hoje consegui entrar no meu blog pra postar alguma coisa em sua homenagem, mas é assim mesmo...

Mês de aniversários do grande Torquato Neto: dia 9 seria seu aniversário de 66 anos e hoje, dia 10, faz 38 anos de sua morte.

Segue abaixo uma entrevista publicada no caderno Comunicação do jornal Opinião. Teresina, 31 de janeiro de 1971...

“O POETA DO TROPICALISMO” AFIRMA: JUCA CHAVES É BÔBO DA CORTE

A patota da Comunicação, estando sempre ao par e ao ímpar dos fatos que nos cercam, se reuniu na casa do Torquato Neto para mais uma das tradicionais entrevistas nossas (aliás, depois que nós começamos a fazer este tipo de jornalismo em Teresina, o resto do pessoal aí também entrou no ritmo que nós já estávamos. Não é nada não, mas por que vocês não têm imaginação?) O resultado desse bate-papo agradável que nós curtimos está aí. Queremos ressaltar que o Torquato é um sujeito genial, muito bacana, mesmo. Estejam na nossa.

Comunicação / Torquato, como foi que você entrou nessa de Tropicalismo?

Torquato / Do mesmo jeito que entrei em negócio de música, gente. Por causa de Caetano e Gil (de quem eu já era amigo desde 1960, na Bahia), numa época em que nenhum de nós fazia música. Em 1962 fui para o Rio, fiquei sempre em contato com eles, mas eu não pensava em fazer música. Meu interesse sempre foi negócio de cinema, sabe? Eu tava jogado nessa de cinema, mas quando a turma chegou, por volta de 1964, nós nos entrosamos e começamos a fazer música. Daí pra frente nunca mais nos separamos.

Comunicação / Nas músicas da Tropicália, você sempre só fez as letras?

Torquato / Olha, nós não tínhamos um esquema rígido de trabalho. Eu sempre faço uma letra que nós chamamos de “monstro”, e depois a gente discute essa letra e trabalha junto sobre ela. A música, entretanto, sempre é do Gil ou do Caetano. Mas a gente discutia sempre como é que ia ser. Houve um tempo em que eu trabalhei com o Edu Lobo, mas eu acho que o mais importante sempre foi o que eu fiz com Caetano e Gil.

Comunicação / Qual a melhor época da tropicália?

Torquato / 1966 foi um ano de perplexidade, quando nós não fizemos nada. Então, nós lançamos em 66 coisas feitas em 65 (que foi aquela época de Louvação, Roda etc). Passamos um ano inteiro na maior perplexidade, porque estávamos sentindo que aquela jogada de esquerda festiva musical em que estávamos envolvidos não era mais o quente. O trabalho de Roberto Carlos (fazendo aquela música incrível, maravilhosa, mandando todo mundo pro inferno) e a presença dos Beatles no mundo inteiro foi que deram a dica para nós. Caetano saiu com Alegria, Alegria, Gil com Domingo no Parque. E dai pra frente foi a guerra.

Comunicação / O tropicalismo tinha base em idéias ou era uma coisa inteiramente improvisada

Torquato / Não foi inteiramente improvisado. Também nós não tratamos de codificar alguma coisa, isso não interessava. O que se chamou de Tropicalismo (esse nome nunca foi dado por nós, foi pela imprensa) foi uma tentativa de propor uma certa liberdade de criação dentro da MPB, de acabar com aquela imbecilidade daquela “guerra santa” idiota entre MPB “pura” versus iê-iê-iê, essa coisa meio histérica e absolutamente reacionária e alienada de nossa época. Isso tinha de ser liquidado, e foi. Queríamos também reavivar a coisa. Porque, naquela época, se a gente pretendia incorporar toda informação que recebíamos da música internacional, tinha de ser (como sempre foi) a partir de uma base inevitavelmente nacional. Por isso a gente fez o que fez. Fizemos aquele disco manifesto Tropicália, onde tem o bolero, onde tem Coração Materno, onde a gente desenterrou todos os fantasmas da música autêntica brasileira. Tudo isso para propor um trabalho sobre essas coisas, um trabalho que já teria sobre si uma carga de informações que estávamos recebendo. Quer dizer: só quem era inteiramente cego, surdo e mudo não notou. Foi uma época danada de guerras, em 68, um ano incrível! A Tropicália não foi improvisada. Nós queríamos era bagunçar o coreto da música popular brasileira.

Comunicação / O Tropicalismo foi só na música, ou teve outro ramo?

Torquato / Eu prefiro chamar Tropicália. “Ismo” enquadra o negócio demais, nem corresponde mesmo ao que a gente estava querendo. Nós começamos o movimento na música, que refletiu em todas as manifestações de cultura brasileira. No cinema, o próprio Glauber definiu a tendência do Cinema Novo como Tropicalista, citando inclusive a fonte da revolução de receber a informação nova sem preconceito, e utilizá-la dentro de uma linguagem ao mesmo tempo nacional e universal (o radinho de pilha acabou com o folclore há muito tempo). No teatro, o movimento coincidiu com o trabalho de José Celso e do Grupo Oficina, principalmente quando lançamos o nosso trabalho, no fim de 67. Na literatura, tivemos aproximação com o pessoal do Movimento Concretista de São Paulo, aqueles poetas que desde 56 vinham tentando renovar a linguagem da poesia. São caras que, aqui no Brasil, ninguém sabe o que têm feito, mas são de renome internacional. Nossa aproximação com eles foi fundamental e ajudou no duro no trabalho que estávamos tentando fazer.

Comunicação / O Rogério Duprat disse que não existe mais a Tropicália.

Torquato / Não, não existe. De maneira nenhum. Ela se autoliquidou, como movimento. Mas a verdadeira tropicália, o Brasil, continua em processo. Nosso trabalho tinha de ser aquele mesmo, tinha que abrir as portas para que o resto do pessoal sentisse que ainda havia liberdade de criação. Caetano e Gil sofreram bastante e tiveram que sair do Brasil por um tempo. Agora Caetano voltou, eu estive por aí afora, cada um seguiu seu rumo e, hoje em dia, é só música que existe. O grupo acabou.

Comunicação / Então, foi uma libertação?

Torquato / O Gil definiu isso naquela época como um “exercício de liberdade”. Era isso que a gente queria fazer, e eu acho que conseguimos porque, de lá pra cá, a MPB é outra.

Comunicação / Aquele disco que foi um manifesto da Tropicália procurou satirizar alguma coisa? No elepê do Gil e no do Caetano, lançados anteriormente, já tinham outras propostas. Faixas que nada tinham em comum entre si. Por isso, como falei antes, é que a gente se recusava a ser “ismo”. Tropicália foi uma liberdade.

Comunicação / Atualmente você está tendo algum contato com Gil e Caetano?

Torquato / Eu soube da chegada de Caetano na Bahia, vendo Tevê aqui em casa. Estava sem saber direito. Há dois meses atrás, eles haviam escrito dizendo que vinham passar o carnaval. Com o Caetano, nem tanto, mas com o Gil eu tenho mais contato. Ele lançou há duas semanas um elepê novo no Festival de MIDEM, em Canes, e escreveu dizendo que o disco não saiu como ele queria. Mesmo porque ele teve muito mais dificuldade pra gravar. Tanta dificuldade, que teve de tocar bateria porque não encontrou um baterista que fizesse o balanço que ele queria, o mesmo caso com baixo, violão e guitarra, além de cantar. Fez esforço terrível porque precisava realmente lançar esse disco agora (assinou contrato com a Paramount Records desde que se apresentou no Festival de Wight).

Comunicação / Vocês vão partir pra outra?

Torquato / Rapaz, a Tropicália acabou. Acabou mesmo. A Tropicália é o Brasil, é essa salada mista de tudo, de miséria, de tecnologia, de tudo isso…

Comunicação / Depois que o Caetano e Gil foram embora, você tem novos companheiros?

Torquato / Eu fui pra Europa antes deles, em 68, passei o ano de 69 todo lá. Encontrei-me com Caetano em Paris, quando eles saíram do Brasil. Voltei no fim de 69 meio sem graça e querendo recomeçar aquela minha jogada de cinema, já que não tinha interesse pra mim continuar fazendo música, porque a minha condição de trabalho foi sempre com relações de amizade. Só sei trabalhar com pessoas de quem eu gosto muito e de quem não discordo em nada. Isso é meio difícil da gente encontrar. Depois que cheguei, andei fazendo umas músicas com Nonato Buzar, pra ganhar dinheiro. E por último, perto de vir pra cá, eu comecei um trabalho com o Macalé, que está me interessando muito. Nada disso foi divulgado e eu nem sei como está. Fizemos seis músicas e a censura cortou quatro. Duas ainda não sei se vai dar pé de gravar. Só vou voltar no fim de março e não sei… A gente tem que enfrentar isso tudo pra trabalhar hoje em dia. E pra fazer só aquela coisinha bendita, abençoada, é meio chato e eu não agüento.

Comunicação / Quantas músicas em que você trabalhou nelas estão gravadas hoje?

Torquato / Quase trinta músicas.

Comunicação / Os rumos da MPB agora estão certos?

Torquato / Estão abertos.

Comunicação / Qual a sua opinião sobre o FIC?

Torquato / FIC… fique pronto. É um Festival montado sobre o de San Remo, que é uma coisa acadêmica, já era. Quando Macalé deu aquele escândalo, que foi Gotham City, quem ganhou foi uma tal de Luciana. Música que não tem nada de novo ganha sempre o FIC.

Comunicação / No Brasil, quem você acha o melhor intérprete?

Torquato / Mulher, Gal. Homem, Gil.

Comunicação / E compositor?

Torquato / Gil.

Comunicação / Como você situa Roberto Carlos dentro da MPB?

Torquato / Naquela época, em que a gente queria fazer música de protesto, na época em que a gente estava acabando de deteriorar a bossa nova, Roberto Carlos fez a maior música de protesto, Que Tudo Mais Vá Pro Inferno, e a gente feito otário, a fazer isto e aquilo. Até que um dia a gente se mancou: ora, nós estávamos brigando com os caras que estavam aí e esquecendo que há juventude. Quando Roberto Carlos começou com O Calhambeque, quem foi com ele foi a juventude. Aquela mesma juventude que quando eu era garoto, ouvia a Celly Campelo sem o menor preconceito. Só depois, com a cultura universitária, é que a gente vai criando aquela ferrugem preconceituosa e quer ficar purificado através do folclore e de uma brasilidade histérica. Roberto nos ensinou muito. Ele foi muito importante. Quando nós percebemos a burrice de lutar contra a gente mesmo, que era juventude, nós aproveitamos Roberto para uma nova jogada, que começou com Alegria, Alegria. Ele foi muito importante pra toda a cultura brasileira.

ComunicaçãoO que houve entre você e Vandré?

Torquato / O Vandré, na época da esquerda musical, disse que eu era o inocente útil do Piauí nas mãos dos baianos. Foi gozado, e, numa entrevista, eu disse que ele era o Carlos Galhardo da esquerda festiva. Vandré queria fazer um tipo de música revolucionária dentro de uma forma reacionária. Eu sou contra o Vandré porque ele parece ser um político do PTB. Pra mim, ele nunca passou de um demagogo de esquerda. A música de Vandré Caminhando, dentro da estrutura acadêmica do FIC, fez a platéia delirar, no mesmo festivalem que Caetano foi vaiado, com a música É Proibido Proibir, e Gil eliminado com Questão de Ordem.

Comunicação / Você acha que Chico também é acadêmico?

Torquato / Na época da Tropicália, o Chico Buarque estava fazendo um trabalho nocivo. Não que o trabalho dele fosse ruim, ele é um ótimo compositor, mas utilizado pela turma mais reacionária como um escudo: a pureza da MPB contra a sujeira da Tropicália.

Comunicação / Quando você voltar para o Rio, vai voltar a compor?

Torquato / Tenho muito pouco a ver com música. Quase nada mesmo. Meu negócio agora é outro. Estou mais ligado agora a cinema.


5 de novembro de 2010

Dia da Cultura

A noite já me triturou o bastante, a ponto de me fazer raciocinar menos ainda... Quase esqueci que o dia 05 de novembro é dia da Cultura também.

Para homenagear a Cultura vou usar dois poemas. Um de Torquato
Neto. O primeiro poeta que conheci e hoje o que mais admiro. E vou usar um poema dele já incluindo para os muitos que vou usar ao longo deste mês de seus aniversários: de vida, no dia 09, e de morte, no dia 10. O outro poema é da poetisa que conheço a menos tempo e que está mais difícil dizer que amei sua poesia. Quando leio poeta que não é piauiense eu fico com uma espécie de ciúme ao contrário, como se os poetas daqui estivessem me olhando torto enquanto eu leio esse outro de outro lugar. Tento brigar comigo mesmo para resistir à poesia. Mas sou fraco. Não brigo com ninguém, nem comigo mesmo. Tanto não brigo que a prova viva de que o encantamento que os poemas dessa "bacharel metida a poeta" (palavras dela) tem me dado já é maior que os meus "ciúmes ao contrário" é colocar um poema seu aqui, mostrando que a cultura não se perde no tempo. Ainda é viva hoje. À revelia dos que pensam que não existe mais poesia, nem música e nem cultura nos dias atuais...

Louvação

Vou fazer a louvação
Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
Ser louvado, ser louvado.
Meu povo, preste atenção,
Atenção, atenção.
Repare se estou errado:
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado,
E louvo, pra começar,
Da vida o que é bem maior,
Louvo a esperança da gente
Na vida, pra ser melhor
Quem espera sempre alcança
Três vezes salve a esperança!
Louvo quem espera sabendo
Que pra melhor esperar
Procede bem quem não pára
De sempre mais trabalhar
Que só espera sentado
Quem se acha conformado

Vou fazendo a louvação
Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
Ser louvado, ser louvado
Quem 'tiver me escutando
Atenção, atenção
Que me escute com cuidado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
Louvo agora e louvo sempre
O que grande sempre é
Louvo a força do homem
E a beleza da mulher
Louvo a paz pra haver na terra
Louvo o amor que espanta a guerra
Louvo a amizade do amigo
Que comigo há de morrer
Louvo a vida merecida
De quem morre pra viver
Louvo a luta repetida
A vida pra não morrer

Vou fazendo a louvação
Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
Ser louvado, ser louvado
De todos peço atenção
Atenção, atenção
Falo de peito lavado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
Louvo a casa onde se mora
De junto da companheira
Louvo o jardim que se planta
Pra ver crescer a roseira
Louvo a canção que se canta
Pra chamar a primavera
Louvo quem canta e não canta
Porque não sabe cantar
Mas que cantará na certa
Quando enfim se apresentar
O dia certo e preciso
De toda a gente cantar

E assim fiz a louvação
Louvação, louvação
Do que vi pra ser louvado
Ser louvado, ser louvado
Se me ouviram com atenção
Atenção, atenção
Saberão se estive errado
Louvando o que bem merece
Deixando o ruim de lado

Torquato Neto

Contradições

A minha viola canta uma canção
No meu coração toca um refrão
Na minha banda, antítese rima com paráfrase.
Metáfora com anacronismo
E hipérbole com onomatopéia

Na minha vida sorriso conjuga com lágrimas,
Raiva com alegria,
Beijo com tapa,
Viola com violão

No meu relógio, hora marcada é atrasada.
meio-dia são duas horas,
seis horas são meia noite e seis,
e três são nove horas.

No meu céu, as nuvens negras,
brilham como ouro ao toque da luz.
A lua beijou o mar,
e o mar beijou o sol.
Belo triângulo amoroso

Ana Kalil


Um dia desses, um amigo me perguntou: "Rivanildo, qual a década que, na tua opinião, tem a cultura mais rica?". Respondi sem titubear: "A nossa"! A nossa geração é a mais rica no que se diz respeito a cultura porque nossa geração tem acesso à produção cultural de todas as outras. Temos a inspiração da nossa realidade e do que foi escrito ou feito anteriormente... Cabe a nós aproveitar e fazer com que a cultura não seja uma lembrança nem um sonho e sim uma realidade!

Dia do Cinema Brasileiro

Ontem (05/11) foi dia de um monte de coisa, uma dessas coisas é o Cinema Brasileiro. Em virtude do meu dia 05 (nesse meu texto, o dia 05 aqui será encarado como ontem. Mas não vou mais falar a respeito disso não...) ter sido cheio, escrevo hoje, dia 6, em homenagem ao nosso cinema.

Meu gosto pra cinema é mais juvenil do que o próprio dono do gosto. Tenho vontade de ser cinéfilo, mas por enquanto sou cinemofóbico. Não que eu tenha medo de cinema. Tenho medo é dos meus comentários sobre o cinema. Mas enfim... são comentários.

Quanto ao cinema nacional, é quase impossível não ter um gosto apurado, pois nossos filmes são, de maneira geral, maravilhosos. Um fator que faz a qualidade do nosso cinema ser tão honrosa é a forte e sábia ligação do nosso cinema com nossa literatura, coisa que acontece pelo mundo afora, mas no Brasil tem um sabor mais especial devido à maravilhosa literatura que temos.

Alguns tabus ainda precisam ser quebrados: a divulgação e a dignificação do nosso cinema. As pessoas ainda dão pouco valor ao nosso cinema, por mais que isso tenha melhorado. Os mais pobres se valem de sua posição social para não buscar o cinema, assim como qualquer outra forma de cultura. Mas aí mora a responsabilidade humana e cidadã: exatamente por faltar riqueza material, é preciso buscar riqueza intelectual. A pobreza não é um muro intransponível para ter-se acesso à cultura, ela é só um obstáculo. Devo considerar o fato de nosso governo não incentivar nem a produção nem a divulgação nem a veiculação dos nossos filmes, mas isso também não é muro. Se o governo fosse um muro para o enriquecimento cultural da população, o nosso país jamais teria superado a ditadura e jamais teríamos conhecido Glauber Rocha...

Outro problema em nosso cinema é a distância do povão às salas de cinema. Tirando Tropa de Elite 2 as pessoas não falam em outro filme... Só mesmo Gu
el Arraes com O Auto da Compadecida (de Ariano Suassuna) e Moacyr Goez com O Homem que Desafiou o Diabo (de Nei Leandro de Castro) e alguns outros poucos conseguiram a popularização dessas obras tão dignas de aplausos e elogios. No mais, os filmes deixam a desejar quanto a sua complicada abordagem. Mas isso também é devido a nossas salas de cinema ainda serem um plano longínquo para nossos potenciais cinéfilos. E o porquê disso é óbvio. Hoje em dia andam preocupados demais com o bolsa família pra se preocuparem com a cultura de nosso povo.

Vou terminar essa "homenagem" com dez filmes (dos doze) nacionais que assisti e que são de altíssimo nível. Lembro (mais uma vez) que meu gosto cinematográfico é horrível!:D









































































Parabéns ao cinema nacional!!!

2 de novembro de 2010

Do Dia de Todos os Mortos


Como fico? Pra onde vou? Serei esquecido? Vou esquecê-la? O que será de mim?... São perguntas como essas (de marido que foi chutado para fora de casa) que tomam conta das pessoas numa data como o dia de finados. E com razão! Essa é a intenção deste dia.

Para outros cristãos e outros seres humanos, nosso hábito de lembrar, uma vez por ano, os mortos é algo sem fundamento bíblico, por isso, estaríamos errados ao celebrar esse dia. Para nós, cristãos católicos, é um dia para lembrarmos aqueles que amamos que atenderam ao chamado maior do nosso Senhor maior.

A celebração da morte existe desde o começo da humanidade. Sempre lembrou-se dos mortos. No entanto, só após a vinda de Cristo essa celebração se tornou sinal de esperança e de fé. E desde o século XIII o dia de Todos os Mortos é celebrado no dia posterior ao dia de Todos os Santos.

Acabo de chegar do cemitério. Visitei e acendi velas no túmulo de meu pai e no cruzeiro do cemitério Santo Antônio. Nunca foi uma tortura ir ao cemitério, exceto pelo fato de ter de acordar cedo. Mas é preciso que eu diga que sempre achei o cemitério um lugar mais agradável que hospital... Hoje em dia, mais do que nunca.

É interessante como a morte é encarada por nós seres humanos. A morte é o único momento da vida (ou da existência) de um ser humano em que ele se torna igual a todos os outros. Na verdade, tem outro momento, mas não seria nada ortodoxo colocá-lo aqui...

Por isso o respeito, a lembrança, a celebração da vida como conhecemos, que se encerrou para determinada pessoa, e da morte que nos separa do desconhecido. Aquilo que só esperamos, através da fé. “A fé é um modo de já possuir aquilo que ainda se espera. É um meio de conhecer realidades que não se veem.” (Hb 11,1)

Tendo esta fé, somos capazes de lidar com o drama ou com a esperança (o que preferir...) da morte sem perder a cabeça, procurar subterfúgios ou confortar-se de tantas maneiras o mundo nos oferece.

Fazem experiências com espíritos e com as coisas de “outras vidas” por este mundo afora. Não quero entrar aqui no mérito ou na veracidade da causa, só penso que, assim como uma galinha não pode saber o que se passa num canil, nós vivos não podemos saber o que se passa no Reino dos Céus. Cada coisa no seu tempo (pegando o raciocínio lá do livro do Eclesiastes). E, como o próprio Homem falou: as coisas dos homens pertencem aos homens, as coisas dos céus aos céus!

Se nos guiamos a buscar paz de espírito querendo ouvir espíritos, estamos dizendo pra nós mesmos que foi vão tudo o que Jesus disse, viveu e sofreu e que de nada serviu sua morte. Além disso tudo, negamos a esperança que Deus, por meio de Cristo, nos deu: a ressurreição. Ressurreição esta que só é possível entender ao estar nela, da mesma forma que só é possível entender da vida ao vivê-la, do amor ao senti-lo, de música ao ouvi-la, de Fernando Sabino ao lê-lo...

Sentei aqui a escrever porque ao acender as velas no cruzeiro do cemitério e ao terminar a última Ave-Maria daquele momento, escutei as conversas que nunca são extintas no dia de Finados, principalmente nos cemitérios: “o ser humano é assim mesmo... vai sem saber que foi!”, “É rapaz... a gente só ‘véve’ com uma certeza: que a gente vai morrer!”, “Deus deu, Deus tira, né mesmo cumpade?”... E nesse eterno indagar, discordar e esperar, vou vivendo até o dia em que terei a alegria de entrar no Reino dos Céus ou de,caso eu não vá (se for essa a vontade de Deus), ver quem eu tanto amei na felicidade e no descanso eterno.