Sejamos eternos, querida,
mesmo na plenitude de nossa ira.
Chega de nossos discursos prontos,
não suportamos mais esperar o fim do verão.
Estranhamos, em silêncio, conselhos dos mais velhos.
Tentamos, inutilmente, reler os jornais passados;
o que buscamos nas páginas surradas?
Apaisagem se adensa na geografia das ruas
de nossa cidade desconhecida.
Mergulhemos no assombro de nosso desejo;
é sempre possível a palavra mais pura e límpida, querida,
mesmo fora de nosso dicionário.
O cheiro do feijão, em panela de ferro,
reacende o fogo de lenha da imaginação: o relógio da manhã.
Herdeiros de nossa própria memória,
divisamos a rua de nossa fraqueza e ausência, na tarde que se avizinha.
O leito seco do rio aguarda a estação chuvosa nas cabeceiras;
depositemos, pois, iguarias e provisões na vazante de nossas horas.
Sejamos eternos, querida,
Marcos Freitas
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