
"Ser diferente. Este é o desafio!" De todas as coisas que absorvi daquele momento, essa foi a que mais me tocou, pois aquele momento foi diferente

Sentei-me na poltrona (não acolchoada) do ônibus que a mais de 400 dias utilizo para ir de casa à escola, e vice e versa. Guardei meu passe verde na carteira ao tempo em que tirava da mochila um livro que acabara de tomar emprestado na biblioteca. Sentado e lendo, entrou no ônibus uma mulher, talvez senhora. Tinha uns 30 ou 40 anos com a sabedoria de uns 30 ou 40 (temos a mania de achar que uma pessoa mais nova, quando inteligente, tem sabedoria de mais velho. E não é assim. A sabedoria é, necessariamente, da idade de quem a busca. Não há idade sábia o bastante. Tenho 17 anos com a sabedoria de 17).
Comecei a ler as primeiras crônicas do livro (de Luis Fernando Verissimo, pra variar) cujo nome é "As comédias da vida privada" quando chegou ao meu lado a mulher que acabava de entrar na lotação. Vinha com uma daquelas pastas de couro com zíper, no balanço do ônibus, quase caindo. Pedi-lhe a pasta e a pus em cima de minha mochila que estava em minhas pernas. Devo confessar que com constrangimento, já que minha intenção era dar-lhe a cadeira, porém, meio que imóvel, fiquei sentado com os olhos no livro e com os livros e os braços em cima da pasta alhei

Depois de algumas curvas e ondulações das pistas de nossa cidade e depois de duas crônicas já lidas, a mulher me pediu licença. Queria olhar o livro que eu lia. Achei aquilo um tanto inconveniente. Não a parte de ela querer saber qual livro eu lia, mas o fato de ela ter pedido licença e fechar o livro nas minhas mãos sem eu ter dado-lhe a licença. Mas tudo bem. Eu não ia sair nos tapas ali com aquela senhora. Só acho que era melhor ela nem ter pedido licença (assim como eu faço às vezes)...
Terminei a terceira crônica e um sorriso raso vasou do meu rosto. Foi quando a mulher perguntou:
-" Me permita lhe perguntar uma coisa... (mais uma vez sem eu permitir-lhe) Até que ponto essas comédias lhe ajuda?"
E lá foi minha resposta, que, como não gosto nem um pingo de falar, não foi nada pequena.
Mas como eu escrevi no começo, não quero escrever a conversa, apenas sobre a conversa.
Me chamou a atenção a minha ignorância, arrogância, insensibilidade e insipiência. Ignorância por ter hesitado em dar a cadeira àquela mulher. Arrogância por achar que aquela seria mais uma daquelas pessoas chatas; filósofa, professora, educadora ou psicóloga, que, como todos aqueles que perdem a humildade ao ganharem o pedaço de "papeldip

Que a primeira impressão é a que fica, há tempos julgo não ser verdade (a menos que sejamos sábios o bastante para fazermos de cada impressão a primeira) . Mas aquilo que deve chamar nossa atenção primeiro em uma pessoa é o último sentimento que ela nos transmite. Por isso comecei o texto dizendo que conversei com Deus no ônibus.
"Até onde é saudável rir da desgraça do mundo e dos outros?". Essa foi uma das perguntas que, na razoável conversa, a mulher me fez. E ficou a reflexão...
Até onde o Luis Fernando Verissimo quer que eu ria e até onde ele quer que eu atente para as coisas que ele acha triste, decepcionante, estressante e torturante neste mundo em que essas coisas são, para muitos, triviais? Até onde o humor me faz rir e até onde o que me faz rir é a vida real e não o humor? Até onde rir é o melhor remédio e até onde rir é melhor do que chorar?... Por quê a gente deve não chorar quando todos parecem querer que soframos? Por quê não fazer o que todos querem que façamos e por que ser do jeito que todos querem que não sejamos? Por quê acordar de manhã e sentir-se cansado, estressado, abatido, às vezes até enlouquecido, quando é aí que a incompreensão, a destruição e a corrupção do homem querem nos levar? Por quê SE fazer essas perguntas quando essas não têm respostas se a buscarmos da forma que buscamos?
Se tantos intelectuais e escritores que leio fossem realmente irônicos (no sentido destrutivo da coisa) e se achassem os donos da razão, como vejo os julgarem ser e se eles realmente não fossem preocupados com a sociedade, eles não seriam tão generosos e altruístas ao nos dar o seu testemunho, suas experiências e o que de bom ou mau podemos tirar delas.
Se for como Fernando P

É o amor que me faz viver. Meu combustível é a honestidade e a sensação de que nada é capaz de abalar os muros do coração, quando ele é alicerçado no gigantesco universo do amor.É a felicidade de amar que me faz querer perpetuar minha existência, como foi o amor que fez Jesus vencer a morte. Falta agora nós vencermos a morte em que não precisamos parar de respirar para estar nela. Falta dar mais valor ao que a vida nos dá de maravilhoso, pra poder resistir a essa tortura que não derrama nosso sangue...
É só o amor que me faz viver no otimismo, no bom humor, na certeza de que não virão dias melhores, pois melhor do que o que já estamos é impossível. O que virá do futuro é uma percepção mais humana e menos imbecil das coisas em nossa volta. Só o amor me faz viver. O amor que é vida, o amor que é tudo, o amor que é o que faz eu ver Deus em todos. Ele que me ama como eu não posso amá-lo, Ele que é o que eu só posso ser a imagem, Ele que é pra quem eu vivo, Ele que é por quem eu amo.

OI,usei uma imagem daqui neste Post: http://consiliencia.blogspot.com/2009/11/uma-curva-nao-e-o-fim-da-estrada.html
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