3 de outubro de 2011

Viva A Dispensa de Incorporação Militar!

Acordei hoje de manhã cedo pra acabar de uma vez por todas com essa peleja: a minha dispensa do serviço militar. E resolvi registrar aqui o que aconteceu nesta manhã do dia 3 de outubro.

Perdoem-me! Deixai-me corrigir o parágrafo anterior: eu não acordei cedo. O aviso anexado ao meu Certificado de Alistamento Militar dizia que eu deveria comparecer ao Círculo Militar das 6:00h às 8:00h. Acordei às 06:00h. E ainda não queria levantar. Estava (acho que ainda estou) meio de ressaca. Ontem foi domingo, festa de aniversário; uma amiga bebe e eu que fico bêbado... É assim mesmo! Dormi às 02:00h trabalhando, atrapalhando e conversando com a Amanda no MSN, logo não dormi ("já era mais de 3 qdo a gente foi dormir viu..." - corrige a mulher citada nesse último período composto). Foi um cochilo. Mas continuemos...

O problema não foi acordar tarde, foi pegar o ônibus tarde. A vinte metros da parada, passa o ônibus que eu tinha de pegar. Ele, claro, não parou. Fez pouco caso de mim. Aliás, não fez nenhum caso de mim. Mal sabia o motorista que ele estava diante de um jovem que poderia, quem sabe, ser do Exército... ahhh se ele soubesse o mal que fez!

Mas ele não fez nenhum mal. Tinha outro ônibus. E veio... mais lotado que o primeiro, mas veio. Dentro do ônibus, à medida que ia sendo encochado, tendo os pés esmagados e os que passavam querendo levar minha mochila, pensei até em repensar e colocar SIM na pergunta do meu CAM “Deseja servir?”, afinal estar na linha de frente de uma infantaria deve ser mais fácil que enfrentar um ônibus lotado. Porém não fiz isso, não. Quero ser professor. Quero ser gordinho e razoavelmente preguiçoso pra toda vida.

Consegui! Cheguei ao Círculo Militar. Perguntei onde era a seleção a um soldado que estava na entrada e ele me ensinou onde era. Eu disse “obrigado” e, enquanto saía, o cara me desejou boa sorte. Disse obrigado mais uma vez, mas dessa vez com um certo medo: boa sorte?! Pra quê? Por que vou precisar de boa sorte pra ir até aquela área que ele havia me apontado?! Será que aquelas histórias de humilhações que eu ouvira dos amigos que gostam de pôr medo era verdade? Fui...

Chegando na “área de seleção”, o soldado cujo nome esqueci pediu meu certificado de alistamento e minha identidade, me entregou uma senha e fui a outro soldado que estava na frente de um computador. Esse me perguntou o nome de meu pai e de minha mãe (pra confirmar se eu era doido mesmo ou se era só a cara - ou será se era apenas pra confirmar o nome dos azarados?!...) e me mandou esperar junto com outros 20 ou 30 jovens que estavam em pé numa sombrinha que ainda brigava com o sol às oito da manhã para uma avaliação médica.

Enfim chegou minha vez. O médico, que estava com um bafo chato de café, disse que ia fazer uma avaliação odontológica e oftalmológica em mim ali. Eu disse tudo bem. Ele prosseguiu. Terminando, com um pincel vermelho escreveu em minha senha “K083 B1” e gritou o mesmo ao soldado. Senti-me uma espécie de boi. Marcado. Ali entendi mais ou menos o que o Zé Ramalho queria dizer com a música dele. Acho que ele compôs Vida de Gado no seu alistamento...

Ao que tudo indica (ainda não sei bem), aquele código significava o motivo da minha dispensa: meu dente “desobturado” - à propósito, eu deixei esse dente sem obturação (ela caiu há um mês) de propósito: um motivo a mais pra ser dispensado. O médico perguntou se eu queria servir, disse que não. E logo saiu... acho que pra beber mais café!
Depois de mais algum tempo, outro soldado me mandou ir para uma “área de espera”. Lá estavam dispostas várias cadeiras de frente para uma tevê. Ligada a um aparelho de DVD, a televisão transmitia um filme sobre a importância e por que é bom ser do exército. Aquilo era uma espécie de lavagem cerebral. Lembrei-me até do clássico dos Beatles e da velha foto do tio Sam dizendo para mim “I want you!”. Mas eu não “want him”! Então, nada feito... era só esperar pra ser mesmo dispensado.

Tanto era uma lavagem cerebral que num dado momento do filme, quem apresentava era duas lindas paraquedistas cariocas. E pra provar que era lavagem cerebral de vez: elas estavam na praia, de biquini, falando dos momentos de lazer dos recrutados. Lembro que éramos trinta jovens que não estavam nem aí pro filme, mas que quando as paraquedistas apareceram, o filme, não mais que de repente, passou a ser assistido por 96,7% dos público ali presente (o 3,3% era eu... eu não comecei a assistir só por causa das mulheres! Eu já estava assistindo com atenção, ok?).

Demorou um pouco. Obviamente, eles chamavam primeiro os que queriam servir, enquanto os preguiçosos tinham de esperar.


Ouvindo o que passava no filme, descobri que Olavo Bilac é o patrono do serviço militar. Nunca pensei que a mão que à pena escrevia poemas também ia à guerra!

Olhando atentamente ao redor, vi uma placa com o nome “Circunscrição Militar”. Bateu um medo de repente porque eu li “Circuncisão...”. Pensei: será que vou entrar nessa sala?! Deus me livre!

Mas passou! Logo o Ten. Agostinho* chamou meu nome e dos outros rapazes que queriam ir embora. Bem humorado (finalmente alguém assim naquele lugar), explicou-nos como receber nossos documentos de Dispensa de Incorporação, pediu-nos que devolvêssemos as senhas de nossos pescoços, desculpou-se por qualquer coisa que não fez, brincou com sua perna direita maior que a esquerda e nos mandou embora.

E fui... saí e saíram também os outros jovens que receberam seus códigos em suas senhas, os outros jovens que também não queriam servir... pelo menos não ao exército. Voltamos pras nossas diferenças, saímos do que nos igualava: a vontade de não vestir uma farda camuflada. Um entrou num carro. Sua mãe o esperava. Outro subiu em sua moto. Eu subia um aclive em direção à parada. E voltamos para as diferenças, para o mundo cruel às vezes, legal na maioria...

Fui dispensado e, já na parada de ônibus, pus os fones de ouvido e ouvi, morto de feliz, um clássico dos Engenheiros do Hawaii, inspirado numa obra do outro gigante gaúcho, Moacyr Scliar: O Exército de um homem só.

Pois é, Amanda, tá despachado: diga ao seu Juvenal que fui dispensado, que não vou morrer em combate e que não vou deixar de me casar com você![risos]


* Esse nome merece uma citação porque é o mesmo nome do santo doutor da igreja, Agostinho de Hipona, e é também o nome de seu Agostinho, meu pai, que só pelo fato de ter me aguentado durante 12 anos já merecia uma canonização!

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