21 de dezembro de 2012

O Papel De Cada Um



Longe de mim ser um defensor atroz das coisas antigas em detrimento das recentes, tampouco um saudosista ou nostálgico ou qualquer terminologia do tipo. Amo e odeio o moderno do mesmo jeito que amo e odeio antigo. Mas o que me interessa neste instante é a primazia do impresso, escrito, desenhado, rabiscado, rascunhado em papel.

Demorou muito para chegar ao papel que temos hoje, às formas de gravar coisas nele, talvez por isso ele nunca saia de moda. Mesmo com a internet e os livros digitais, PDF e outros, nada substitui o cheiro do livro e o rasgar do plástico, quando ele é novo; quando velho, nada melhor que as páginas que, como uma criança pequena, pede delicadeza ao extremo... sem falar nas anotações dos outros portadores daquele livro: é legal a tal conexão que se cria entre tantas pessoas por causa de um livro.

Não queria apelar nesse meu texto, mas é preciso: dê de presente um livro, mesmo que comprado na internet, mas um livro, desses de capa e páginas, depois compre um ebook para presentear. Calcule qual deu satisfação maior. Não para o felizardo presenteado, mas para você. É impressionante como o prazer de um presente está mais em quem presenteia do que em quem recebe. Não sei se é loucura só do louco aqui.

Outra apelação: experimente ler um livro antes de dormir... Quando se der conta que caiu no sono e que já está no outro dia, não haverá problema ter deitado por cima do livro, ou deixá-lo de lado na cama; agora, já pensou fazer isso com um tablet, ipad, smartphone ou o etcétera e tal?


Guardo desde sempre tudo que já recebi escrito. Costumo colocar todas as cartas (tirando as de cobrança), bilhetes, fotos e outros mais debaixo do meu colchão. Já pensou um monte de pen-drives e outros eletrônicos do gênero dormindo embaixo de mim toda noite? Como eu poderia ter que esperar um sistema todo iniciar para ver uma homenagem que me fizeram? Vou além: como eu poderia esperar um sistema iniciar para escrever algo?

Uma defesa ao impalpável eu preciso fazer: as redes sociais e a internet têm sido um meio de divulgação, circulação e até mesmo criação tão imenso que é inegável a sua importância para o conhecimento cultural. Tem tanta gente boa escrevendo coisa tão boa que cada vez mais atesto que seu nome não precisa ser muito sonoro, tampouco bem patrocinado para ter ali, no que é escrito por você, coisas maravilhosas.

O certo é que não deve haver uma competição entre o livro tradicional e os livros digitais e sim uma cooperação. As duas formas servem para disseminar (e tentar descentralizar) a cultura, uma mais acessível do que a outra, mas as duas ainda muito distantes de milhões de brasileiros que também precisam da cultura literária. Na página ou na tela cada um tem seu papel e deve desenvolvê-lo da melhor maneira possível: dar a quem o utiliza a chance de viver melhor.

Escrevo esse texto no computador e vou postá-lo na internet, nada que eu ou alguém possa levar para debaixo do seu colchão ou para a mesinha do lado da cama (pois não gosto de caçoar da mudez do criado), mas que – espero eu – encha quem o leu de ideias para levar consigo, não só para o sono, mas para toda a vida.


Imagem 1: http://www.naniesworld.com/2010_07_01_archive.html
Imagem 2: http://www.mudandodeassunto.com/livro-impresso-x-e-book-a-batalha-que-nao-deveria-acontecer/
Imagem 3: http://paneetvino.blogspot.com.br/2012/03/charge-de-hoje-livros-e-internet.html

Um comentário:

  1. Exatamente o que eu penso, Trepece. Junte a isto a enorme correria para os cinemas para "desconstruir" as imagens que sonhamos ao ler um livro. Sou amante inveterada das páginas de papel de um bom livro. Amei.

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