19 de janeiro de 2013

De Frente Pro Crime - Parte I



Ali estava a cena do crime: os três entreolhando-se, o corpo no chão. Nada mais descreveria melhor a cena que um cajueiro fazendo sombra aos quatro e a pracinha ladeada pelas ruas de pedra que muito fizeram joelhos sangrarem, nas corridas dos meninos. As outras árvores – às quais não me cabe catalogar a espécie – escondiam o dono da vida que foi tirada.
***

Dona Joana cuidava carinhosamente daquele a quem ela chamava, com um jeito meigo e verdadeiro, de filho. Santiago não concordava, achava aquilo absurdo: para ele, filhos de verdade eram os outros três. Todos meninos, tinham a mesma idade, os três tinham facilidade de arrumar brincadeiras novas, ao tempo em que desarrumavam tudo que a mãe, com zelo, deixava no lugar. Santiago exercia certa pressão sobre os filhos para não contrariarem tanto a mãe, mas o pai se via naqueles três garotos, donos de vitalidade incomparável, que logo se tornariam homens.

Apesar das diferenças, desavenças e descrenças, normais de qualquer lar e em qualquer época, é possível dizer com moderada certeza que a felicidade fazia morada naquele lugar até o tempo passar e trazer a festa da carne – o tal carnaval.

Há muito os três não se juntavam para passar um tempo juntos, foi aí que veio a grande ideia:

 – Que tal irmos brincar na praça?

Mas uma pergunta ficava no ar: já não estariam ambos um tanto velhos para brincar naquela praça? Ninguém mais brincava ali. Desde que os vizinhos começaram a despejar seus resíduos naquele, antes, ponto harmonioso de encontro e de divertimento. Questão que sempre os fizeram pensar sobre o que haveria aquela praça de tão parecida com terrenos baldios ou aterros.

Em nome dos não tão velhos tempos, foram. E, também em nome de algo nem tão honrado assim, mas que também possuía grande efeito sobre eles, levaram o filho querido de dona Joana.

Pode parecer coisa planejada, mas não. Nenhum deles demonstrava ódio ou rancor do quarto integrante da segunda geração daquela família. Mas há uma linha muito tênue entre o não demonstrar e o não perceber a vontade. E quando a memória atraiçoa um homem, tornam-se nebulosas a realidade e as consequências das ações presentes. Imagine o que não pode causar essa traição da memória em três homens e a um quarto irmão, nenhum pouco desejado... Se os fins justificam os meios e se justificação é algo importante, as conclusões - se elas vierem - das ações narradas a seguir hão de esclarecer muito... (...)

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Não teria graça alguma terminar a história aqui, não é mesmo? Outro dia, eu ponho o fim... 

17 de janeiro de 2013

Ao Seu Carlos

Escrito no dia 31 de outubro de 2012 e postado só agora por falta de alguma qualquer coisa deste que agora para de escrever besteira antes dos bobos tercetos abaixo...




No meio da pedra tinha um caminho
que amava Lili
que largou o José.

E ali vai Raimundo, querendo sozinho
dar o melhor de si
de pétala em flor, por onde quiser...

E o mundo caduco deixou o menino
velho poeta maduro assim
anjo torto de uma só mulher.


PS¹: em 31 de outubro passado, celebrou-se 110 anos de nascimento do nosso poeta de sete faces, o itabirense mais famoso do mundo: Carlos Drummond de Andrade.

PS²: Só Deus é capaz de saber o porquê desta postagem hoje (aparentemente nada a ver, embora nunca seja sem motivo uma homenagem a um gigante como o seu Drummond), mas, como diria outro poeta: "não sei qual foi a causa e quais serão as consequências... não sermos literais às vezes faz nossa beleza...".

PS³: Meu primeiro contato com o Carlos Drummond de Andrade foi quando um(a) conhecido(a) - o(a) qual terá gentilmente o nome preservado - me informou que Drummond era um grande aviador brasileiro que deu um passeio no seu meio de locomoção favorito: o 14 bis. [Risos suprimidos e subentendidos].