Ali estava a cena do crime: os três entreolhando-se, o corpo
no chão. Nada mais descreveria melhor a cena que um cajueiro fazendo sombra aos
quatro e a pracinha ladeada pelas ruas de pedra que muito fizeram joelhos
sangrarem, nas corridas dos meninos. As outras árvores – às quais não me cabe catalogar a espécie – escondiam o dono da vida que foi tirada.
***
Dona Joana cuidava carinhosamente daquele a quem ela
chamava, com um jeito meigo e verdadeiro, de filho. Santiago não concordava,
achava aquilo absurdo: para ele, filhos de verdade eram os outros três. Todos
meninos, tinham a mesma idade, os três tinham facilidade de arrumar
brincadeiras novas, ao tempo em que desarrumavam tudo que a mãe, com zelo,
deixava no lugar. Santiago exercia certa pressão sobre os filhos para não
contrariarem tanto a mãe, mas o pai se via naqueles três garotos, donos de
vitalidade incomparável, que logo se tornariam homens.
Apesar das diferenças, desavenças e descrenças, normais de
qualquer lar e em qualquer época, é possível dizer com moderada certeza que a
felicidade fazia morada naquele lugar até o tempo passar e trazer a festa da
carne – o tal carnaval.
Há muito os três não se juntavam para passar um tempo
juntos, foi aí que veio a grande ideia:
– Que tal irmos
brincar na praça?
Mas uma pergunta ficava no ar: já não estariam ambos um
tanto velhos para brincar naquela praça? Ninguém mais brincava ali. Desde que
os vizinhos começaram a despejar seus resíduos naquele, antes, ponto harmonioso de encontro e de divertimento. Questão que
sempre os fizeram pensar sobre o que haveria aquela praça de tão parecida com
terrenos baldios ou aterros.
Em nome dos não tão velhos tempos, foram. E, também em nome
de algo nem tão honrado assim, mas que também possuía grande efeito sobre eles,
levaram o filho querido de dona Joana.
Pode parecer coisa planejada, mas não. Nenhum deles
demonstrava ódio ou rancor do quarto integrante da segunda geração daquela
família. Mas há uma linha muito tênue entre o não demonstrar e o não perceber a
vontade. E quando a memória atraiçoa um homem, tornam-se nebulosas a realidade
e as consequências das ações presentes. Imagine o que não pode causar essa
traição da memória em três homens e a um quarto irmão, nenhum pouco desejado... Se os fins justificam os meios e se justificação é algo importante, as
conclusões - se elas vierem - das ações narradas a seguir hão de esclarecer
muito... (...)
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Não teria graça alguma terminar a história aqui, não é mesmo? Outro dia, eu ponho o fim...